opinião

O limite da violência



Pela guerra, ganância, vaidade, ou mesmo pela conjunção dos fatores, o ser humano convive com a violência desde sempre. Acostumou-se com ela, e transformou-a em um fator nas suas tomadas de decisão. Que profissão escolherei, onde vou morar, a que horas vou voltar. Até aí, paciência, é uma relação milenar, na qual não vou me meter.

Agora, que após a entrada da droga nessa matemática, essa relação vem perdendo o respeito, isso é fato. Não são necessários motivos, fatores, nada! Hoje a droga e uma discussão, ou a droga e um aperto financeiro, ou a droga e qualquer coisa, vira uma morte.

Então podemos dizer que o fator preponderante, hoje, é a droga. Os demais transformaram-se em secundários. É só se drogar e se irritar, ou se drogar e ter um acerto antigo de contas para se criar o ambiente para a violência.

Os números não mentem. As mortes, em geral, são em decorrência do comércio e do uso de drogas, e na sua maioria, entre jovens, pobres, e perdidos. Não bonzinhos, nada disso. Mas apartados da sociedade, de uma forma que seria impossível dizer como se comportariam se tivessem sido acolhidos por um bom emprego, e tivessem dignidade. É claro, isso em relação aos que desejariam trabalhar e ser dignos.

Porém, hoje são assassinos, cruéis, que matam mães enquanto esperavam filhos na escola. Que matam mães na farmácia, escolhendo a fralda mais barata, com o filho no colo. Também matam pais saindo de casa às cinco da manhã, para trabalhar. Matam policiais, matam padres, e matam filhos.

Como disse, essa relação do ser humano com a violência vem perdendo o respeito.

Aliás, a situação é tão caótica que podemos dizer que seria um alento se somente matassem. Mas não. Às vezes sequestram, estupram, esquartejam. De modo que nenhum filme de terror conseguiria imitar.

Sim, sempre houve isso. Mas será que neste nível? Nesta proporção? Será que a droga, como fomentadora da violência, não vem tornando-a mais aguda, mais brutal? Será que não estamos num momento histórico a ser analisado com mais cautela e onde a criminalidade, como consequência da veia violenta do ser humano, deveria ser eleita como o problema, e não mais um dos problemas da humanidade?

De que adianta trabalhar, comprar casa, carro, ir à missa, ser fiel, fazer caridade, se numa tarde de sábado alguém chapado, para uma moto (um carro, uma bicicleta ou um cavalo) ao seu lado, e mata um familiar seu para roubar um relógio, tornando a sua via um purgatório, onde passará seus dias se culpando por ter arrancado com o carro, ou por não ter, ou por estar com o relógio no pulso?

A violência torna tudo sem sentido. Você é o cara, e daqui um segundo, você não é mais nada. Ela está no jornal, na TV, vira até comédia, tanto que existem canais que falam de crime como se fosse história para dormir. Será isso normal? Ou nós não estamos entendendo que a cada ato de violência, o ser humano torna-se menos humano?

Seja qual for o caminho, necessário retomar o respeito na nossa relação com ela.

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